terça-feira, 2 de setembro de 2008

A pergunta que se faz a Ewerton Clides

por Ewerton Clides

A pergunta mais comum que se faz a mim, Ewerton Clides, é:

- Por que você não fez USP?!

Ela é sempre seguida de um suspiro esnobe que, pura ironia!, é utilizado normalmente por pessoas que fizeram USP!

Para uma pergunta, várias respostas.

Primeira resposta: Eu não fiz USP por ter orgulho suficiente de não querer ter meu nome sempre seguido de uma sigla. Imagine você se meu nome fosse: "Ewerton Clides, da USP"? Isto me deixaria tão nervoso, que o sujeito, querendo agradar, tomaria um magnífico susto. Saiba que até enrubesceria. Sabe de quê? De ódio!

Fora o orgulho, nunca tive a burrice de depender dos outros para ter inteligência. Para as pessoas com este tipo de burrice que criei o Instituto EWerton Clides, o IEW, onde se discute e se aprofunda a sociologia ewertonclidiana de Ewerton Clides. Para uma pequena amostra da inteligência que sempre me foi natural, veja um texto que fiz aos oito anos de idade:

"Normalmente seria normal normalizar a normalidade normalista das normas normativas da normatividade normalizadora anormal."

Notou que aos oito anos fiz um texto de um nível que você não atingirá mesmo aos 60 anos, na flor da idade?

Creio que se tivesse feito USP, esconderia de meu currículo.

Como não está em meu currículo que fiz USP, você deve pensar neste momento que eu escondo, devido à frase do parágrafo anterior. Bem. Eu esconderia, mas se estivesse escondendo, jamais diria que esconderia.

Segunda resposta: Não fiz USP por sempre ter planejado um instituto com meu nome. A maior burrice que se pode ter é a de fazer propaganda ao adversário. Pois não seria somente o Instituto EWerton Clides que seria o instituto de Ewerton Clides. Também seria a USP.

Se com o contingente enorme atual de sócios já é difícil manter o Instituto, imagine você com a USP tendo essa propaganda?

Este deslize, garanto a você que não cometi. Aliás. Você já viu o Bill Gates com um Mac em sua mala?

Eu também não.

Terceira resposta: A USP fica muito longe de minha residência, por isso não estudei lá.

Eu, Ewerton Clides, valorizo cada minuto de meu dia. Imagine você um minuto sendo desperdiçado. Agora imagine um minuto desperdiçado diariamente. Então como seria um minuto por dia por oitenta e sete anos, que é a idade que tenho atualmente?

Quanto tempo eu teria perdido para a sociologia no caminho para a USP!

Quarta resposta: Eu teria muito trabalho ao ensinar a verdadeira sociologia aos professores de sociologia e não seria sequer remunerado.

Todos os professores que encontrei até hoje têm muita honra em ter-me encontrado. Eu poderia dizer o mesmo, se não fosse mentira. Detesto professores, porque eles têm o ar de que podem sempre ensinar alguma coisa. Pegam o guardanapo professoralmente, contam uma piada professoralmente, falam de sociologia professoralmente.

Eu, que sou o inventor da verdadeira sociologia - ou o reinventor da sociologia - não falo neste tom. Por que os outros poderiam falar?

Fora que eu, Ewerton Clides, sei qual é o jeito certo de se pegar guardanapo. É assim, ó.

Quinta resposta: A Juliana não estuda lá.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Cafu é meu

Eu, Ewerton Clides, tenho notado um fenômeno muitíssimo interessante.

Uma coisa que lhes adianto, é: não sou o único que notou o fenômeno muitíssimo interessante.

É o fenômeno dos livros que debatem a relação entre cães e donos de cães. Começou com o dono do Marley. Não quero nunca ler o livro que ele escreveu, mas achei tão aprazível que o título do livro seja Marley e eu. Eu achei bonito não pelo título em si, senão porque ele disse o nome do cão e não disse o dele. Eu sei o nome do Marley e não sei o dele.

Foi um ato de uma humildade estupenda. Se não fui de humildade, foi de burrice. Mas prefiro pensar na humildade, já que ela inspirará os leitores nesta tarde de terça-feira.

Mas este texto é para explicar que a moda começou quando surgiram boatos de que eu, Ewerton Clides, estaria fazendo um livro deste tipo. Não era verdade. Porém, as pessoas não se preocupam com a veracidade quando há o nome Ewerton Clides no meio.

Inspirado pelo boato, comecei a fazer um livro sobre minha profunda relação de carinho e afeto com meu cão, quando me dei conta que teria graves problemas autorais. O nome dele é Cafu. O Cafu, jogador de futebol apenas mediano, não perdoaria e processar-me-ia de modo inapelável. Portanto coloco aqui neste belíssimo blog um pequeno trecho do esboço do meu livro. O nome do livro seria: "Cafu é meu". Vamos ao trecho.

"Cafu é o cachorro mais burro que já conheci. Demorou cinco anos para aprender a sentar seguindo ordens. E demorou mais 13 anos para abrir portas sozinho. É claro que a porta tinha que estar entreaberta para ele abrir. Mas ele esticava a patinha, abria, e mesmo eu, Ewerton Clides, não ousaria lhe dizer:

- Cafu! Não foi você que abriu! Na verdade, a porta já estava entreaberta.

A ousadia, eu teria. Mas não perderia meu tempo, porque Cafu é burro e não sabe decifrar as palavras humanas.

Cafu morreu.

Se antes eu sonhava qualquer coisa, acordava e vivia o Cafu, depois disso eu passei a sonhar com o Cafu, acordar e viver qualquer coisa. Esta frase, plagiei de André Cintra. Claro que é muito sentimental, e não é sociologicamente viável em um texto. Claro também que não corresponde à realidade, já que sonho sempre com Juliana e vivo Juliana. Mas é muito, muito bonita."

O ônibus de Ewerton Clides

Perguntam sempre a mim, Ewerton Clides, o porquê de eu andar sempre de ônibus, não de carro, moto, motovan e de bonde.

Sempre digo que a motivação maior é a de que em ônibus, é possível que se faça um maior número de estudos sociológicos. Posso ver uma criança conversando com a mãe e fazer-lhe alguns questionamentos; posso sentir o nervo acirrado do motorista quando passa por uma lombada, ou até mesmo a angústia do cobrador quando não há troco possível.

Tudo isso me seria impossível em carro, moto, motovan e em bondes. O carro me sufoca. Me sinto tão apertado, que me dá vontade de desabotoar minha camisa marrom, num tremendo desvio sociológico! Além de balançar e me dar vontade de tomar dramin.

Não sei dirigir motos. Assim, tenho que abraçar o motorista. Não abraçava nem minha avó, vou abraçar o motorista?! O pior das motos é que elas me obrigam a abrir as pernas, numa exposição terrível.

Motovan, eu não sei o que é. E bondes já não existem mais.

Mas o que mais me espanta, que me deixaria de cabelos em pé se eu tivesse cabelos, é a desatenção profunda do leitor.

Você, leitor, me imaginou em um ônibus repleto de gente. Quanta desatenção, minha gente! Mas quanta desatenção, repito, minha gente!

O leitor não imaginou que meu ônibus é privativo. Só eu ando nele e observo pelas janelas todo o mundo sociológico por fora.

Imagine eu, Ewerton Clides, andando em um ônibus, de pé?!

Saibam que também sou ecologicamente correto. Ouvi dizer que andar de ônibus é muito mais conveniente à natureza do que andar de carro.

A faxineira e eu

Há um certo tipo de faxineira que detesta tudo o que faz.

Pode limpar esplendorosamente o quarto do vice-presidente da república, arrumando perfeitamente a coleção de pedras antigas que estavam jogadas no armário, alisando a roupa de cama para que o sono fique ainda mais agradável e deixando o carpete subliminarmente cheiroso. Pode cumprir outros itens que lhe garantam elogios casuais ao presidente, que não se gaba de sua capacidade.

Claro que a organização das pedras antigas não estão genericamente organizadas, de modo que qualquer entendido saiba se localizar. A organização das pedras desta faxineira fictícia é feita para que somente o vice-presidente — também fictício — saiba onde está cada pedra.

É um serviço que pode somente ser feito depois de muitos anos de serviços prestados ao senhor vice-presidente. E também com muitos estudos sobre localizações macro geográficas e micro geográficas. Pensei em dizer que este trabalho é resultado de muitas broncas, mas se a nossa faxineira levasse uma bronca, somente uma, pediria demissão. Porque faxineiras deste tipo são sensíveis.

Por isso que eu, Ewerton Clides, sempre falo aos que perderam a paciência com as faxineiras que, se elas continuam trabalhando, é porque não são boas faxineiras. A boa faxineira é sensível, orgulhosa e pediria demissão.

Pois eu, Ewerton Clides, ao contrário do tipo de faxineira mencionado neste mesmo texto, adoro tudo o que faço.

Até mesmo este texto é adorado por minha pessoa. Confesso que o reli até esta parte por várias vezes, todas com lágrimas por trás dos óculos.

Uma vez, tive uma pedra no rim que me fez doer demasiado. O doutor me disse:

- Ewerton Clides, extinguiremos esta pedra a laser!

Eu lhe respondi que:

- Não, doutor! Não tem como abrir meu rim para tirar esta pedra? Fui eu que fiz!

A operação foi marcada para o dia seguinte, e o doutor notou assim que a viu pela primeira vez, que uma pedra de Ewerton Clides é preciosa demais para ser expelida naturalmente.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

natal #3

Recebi muitos comentários - não neste blog, senão pessoalmente - sobre os últimos títulos neste espaço.

- Ora, Ewerton Clides, por que você escreveu natal no título com letra minúscula se estava no comecinho?

Para não se confundir com a cidade, Natal.

Eu, Ewerton Clides, nunca enunciei a cidade Natal em textos meus - antes deste -, mesmo considerando o nome da cidade interessantíssimo. E mesmo sem saber nada da cidade.

Este é um esclarecimento para embranquecer o que claro está: falo sobre natal, a data comemorativa; não sobre Natal, a cidade.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

natal #2

O meu natal é sempre passado sozinho, com o retrato de minha mãe.

Minha mãe detestava o natal, é por isso que nesta data faz tanta falta. Detestava o natal e maldizia Jesus e todos os que comemoram onatal. Uma vez, disse:

- Espero que morra sem fazer nada de importante, para que ninguém comemore a minha morte desse jeito!

No natal eu, Ewerton Clides, aproveito para utilizar roupas menos sociais.

natal #1

O natal lembra a mim, Ewerton Clides, que as pessoas não se lembram mais do natal.

É o natal que as lembra.

O natal lembra que elas vão ganhar presentes, que elas vão dar presentes, que vão comer peru na casa da tia - ou da vó, em alguns casos, em algumas casas -, viajar para ver a família, ou até mesmo que vão se livrar um pouco da família para ficarem sozinhas.

Jesus Cristo foi um grande homem, embora tenha morrido cedo, embora tenha morrido porque quisessem que ele morresse.

Jesus morreu para que dois mil e sete anos depois as pessoas comessem peru?

Não sei.

Sapatênis

Eu, Ewerton Clides, sou comumente chamado de sociólogo.

Assim como os chimpanzés são comumente chamados de chimpanzés nos zoológicos - nas ruas e nas selvas são chamados de macacos; os operadores de telemarketnig são chamado de operadores de telemarketing; os jogadores de futebol são chamados de jogadores de futebol; e os jogadores de basquete são chamados de bombadinhos.

Já foi dito aqui muitas vezes que enquanto os poetas se vangloriam de resumir um grande assunto em um curto espaço de texto, os sociólogos se orgulham se expandir um pequeno assunto em um enorme espaço de texto. E nós temos a razão.

Matematicamente falando, o poeta pega uma expressão: 9x + 9ac + 9284bw = 203489234. Dela, diz: Por que não um virgula cinco, pessoal?

E o sociólogo pega o um vírgula cinco e transforma na expressão: 9x + 9ac + 9284bw = 203489234.

Agora vamos à verdadeira teoria do dia, já que falamos mal dos poetas e dos que fazem coisas inúteis à vida, como poesia, banho e malabaris.

Estava eu, Ewerton Clides, andando em uma movimentada rua de São Paulo.

(Não uso sapatos com cardaços, já que o risco de ele desamarrar é grande. Mas neste dia, coloquei um sapato com cardaços por engano.)

(Se eu não uso sapatos com cardaços, o bom leitor deve ter indagado: "Por que Ewerton Clides tem sapatos com cardaços já que não os usa?" Resposta: Comprei porque achei bonitinho.)

Quando uma moça veio à minha direção e disse:

- Você não é o grande sociólogo Ewerton Clides?

E eu era o grande sociólogo Ewerton Clides.

- Ewerton Clides, o seu tênis está desamarrado.

Desconsiderei o que disse a moça. Nem olhei ao meu sapato. Ora, se uma moça confunde tênis com sapato, certamente pode conffundir cardaço desamarrado com cardaço amarrado. Para os transeuntes não pensarem que destratei a moça, disse-lhe:

- Nove e trinta e quatro.

Assim, pensaram que ela havia-me interpelado somente para perguntar as horas, que fortunadamente eu tinha já na cabeça.

Andei mais alguns passos, quando tropecei aleatoriamente.

Era meu sapato, que estava desamarrado. Pisei em cima do cardaço e tropecei.

Mas engana-se quem pensa que a moça tinha razão. Ocorreu que o cardaço desamarrou após ela ter-me dito aquelas baboseiras sobre tênis.

Olá,

Meu nome é Ewerton Clides, e eu raramente começo um texto com uma saudação. Por isso, minha leitora, veja neste texto - além da raridade sociológica presente sempre nos textos escritos por mim, Ewerton Clides - a excentricidade de um Olá.

Toureiros dizem Olé!, mexicanos dizem Ôla!, seres humanos têm olho!, e eu lhe digo Olá!

(Não lhe perguntarei se está tudo bem. A concessão sociológica de hoje termina no Olá!)

Vim não para fazer concessões sociológicas. Vim para dizer sobre narcóticos. Mas não estou preocupado com as famílias nacionais que perdem crianças para as drogas. Crianças que trocam a mãe por um craque que não joga bola. E que fumam deselegantemente uma droga de nome também deselegante. (É maconha, a droga! Mas não vou dizer aqui, porque é muito deselegante!)

Porque eu, Ewerton Clides, sou viciado em uma garota de maneira mais profunda que uma criança se vicia em uma droga. Ela esquece a mãe, mas a escuta. A mim, se me dizem mãe, pergunto: "De quem?!"

Sou viciado numa garota, mas ainda assim faço sociologia. Paixão sociológica.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Quê?

Milhões de pessoas lambem os lábios para deixá-los mais secos, mesmo que este ato os deixem - os lábios - mais ácidos.

Uma vez, vi três sujeitos parados na rua lambendo os lábios. Perguntei-lhes por que lambiam os lábios, uma vez que milhões de pessoas lambem os lábios para deixá-los mais secos, mesmo que este ato os deixem - os lábios - mais ácidos.

Enquanto eles respondiam, tive a idéia de usar este pensamento no começo de um texto. Pois este pensamento me desviou da resposta, e disse-lhes:

- Quê?

"Não sabíamos que ficava mais ácido", eles respondiam. "Mesmo de posse desta informação, não pararemos de lamber nossos lábios: a sensação é ótima."

Se eu disser que eles disseram tudo isso juntos, unissonamente, você acreditaria? Bem,

(A separação de parágrafo após esta vírgula foi proposital.)

Você acreditaria porque seria dito por mim, Ewerton Clides. E uma pessoa pessoa como eu... Bem,

Uma pessoa como eu, não existe. Mas eu, Ewerton Clides, não diria uma mentira em um texto assinado por mim mesmo! Quando eu minto, digo: - Menti! E quando não minto, não digo nada: nem que menti, nem que não menti.

Curioso seria se eu dissesse que menti quando na verdade não menti!

Bem,

A razão por que fiz este texto é tal: - Há coisas boas que fazemos mesmo que nos façam mal. Tem gente que pula, mesmo que doa as articulações; tem gente que toma café, mesmo que não durma; e tem gente que fuma, mesmo que câncer.

E eu, Ewerton Clides amo uma moça, mesmo que o namorado dela me corte partes do corpo.

São Beneditino e os morangos

A paróquia de São Beneditino deve ser uma bela paróquia.

Se eu, Ewerton Clides, já a visitei? Nunca! Nem quero visitá-la. Creio que o nome Beneditino não é nome que se dê a uma pessoa, quanto mais a um santo tão famoso - não é preciso conhecê-lo para citá-lo.

(Dedico este momento do texto entre parênteses ao pai de São Beneditino. Devo desculpar-lhe por, ao batizá-lo, não saber que seu filho seria um santo. Mas ao se batizar alguém, é preciso pretensão! Requer saber que a criança pode tornar-se santa!

Por este equívoco, a humanidade por pouco que não perdeu um santo!)

No começo de minha vida sociológica, almejei muito que se lembrassem de mim. Como São Beneditino, gostaria que me citassem sem me conhecerem! Era-me honroso saber que depois de minha vida, continuariam lendo meus textos.

Mas com a consolidação de minha carreira sociológica, não me preocupei mais. Percebi que a verdadeira honra seria a das pessoas vivas, que leriam meus textos comigo já morto. E que seria impossível citar-me sem conhecer-me, já que sou conhecido por todos!

Eu tenho a honra que os morangos, por exemplo, não têm! Um morango, depois de morto, jamais será comido. Nem uma pêra, nem bife à milanesa, nem uma prostituta!

(Aqui, o sentido de prostituta que não será comida é o de não será comida canibalisticamente, não vulgarmente, sexualmente comida.)

O morango, porém, tem a honra de ser comido por mim, em vida, e evacuado, já morto.

Pintas & pintos

Eu, Ewerton Clides, determinei na década de 50 a classificação sociológica dos ruivos como nível interessante/interessantíssimo.

Ruivos, como se sabe quem os olha por uma vez, têm muitíssimas sardas. E, apesar de não serem cenouras, abóboras, ou mesmo laranjas, são laranjas! As sardas é o que nos interessa; a cor laranja, coloquei aqui para dar-nos diversão, embora pareça um desvio sociológico. Mas como este texto é escrito por mim, Ewerton Clides, o leitor logo se apercebe de que o desviado é ele, não eu.

Ora. Já cometi muitos desvios sociológicos. Não queria continuar falando sobre isso, porque é uma divagação plena e absurda, mas vocês leitores pedem como se fosse de uma verdadeira graça que eu me desviasse sociologicamente.

Vocês perceberam a graça do parágrafo anterior? A graça nele está na mentira de que já cometi muitos desvios sociológicos! A sociologia é uma faixa de pedestres na qual só podemos pisar nas faixas brancas. O resto, o asfalto pode onde os carros passam, não nos interessa! O que fiz agora foi pisar na faixa branca, com o flanco do sapato encostando o asfalto.

Depois limparei meu sapato.

Mas eu falava de ruivos. As pintas deles são valiosíssimas em nossos estudos porque nunca estão sós. Os ruivos que se prezam sempre possuem inúmeras pintas. E como um conjunto, são dignas de serem estudadas.

Já as pintas sozinhas, urgh, têm até pêlos! Desculpem o desvio sociológico ao inserir neste texto uma onomatopéia, mas pêlos me eriçam os pêlos que me restam na nuca!

Tudo isso para, agora, falarmos de pintos. Eles são amarelos e vieram de uma galinha.

Quero dizer, meus leitores sociológicos, é que adoro ver que nasceu um pinto novo, pois assim um ovo deixou de ser fritado.

E eu, Ewerton Clides, detesto ovo frito.

sábado, 24 de novembro de 2007

Comunicado importante

Este blog não mudou de endereço para http://www.anamariabraga.com.br, portanto continue visitando http://www.ewertonclides.blogspot.com se quiser entrar em meu blog.

Ewerton Clides

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Amores invertebrados

Quando alguém corrige a mim, Ewerton Clides, digo:

- Parabéns pela ousadia, mas você está errado.

A ousadia é muito engraçada e, assim como quem me corrige, errada. Ela é como a baunília que ressalta o sabor. Porém a ousadia ressalta a burrice ou ressalta a inteligência. Pois corrigir-me é uma grande burrice, está claro. A burrice ousada.

Mas hoje não falarei sobre burrice ousadas. Nem sobre touradas.

- E torradas?

Não, obrigado. Está servido?

Hoje vim para falar sobre os amores invertebrados.

São dois, os amores. Os vertebrados e os invertebrados.

Os amores vertebrados são comumente mais fortes que os invertebrados, porque têm um osso bem no meio do coração, dando-lhe sustância dura. É, pois, uma força. Mas uma força que atrapalha!

Queridos leitores da sociologia ewertonclidiana: Quando se ama, a vontade é a de expremer o coração da pessoa amada como se expreme uma laranja lima para se fazer um suco de laranja lima!

- Para quê?

Não sei! Mas a gente expreme deliciosamente! E o que fazer quando se tem o osso? Se retira o osso!

Os amores vertebrados são, assim, um amor imaturo, pois que precisam ser vertebrados.

Os amores invertebrados iniciam-se na hora da retirada do osso do coração. Neste exato momento, ele fica mais fraco, sentindo a falta do osso. Há os amores que resistem e os amores que não resistem. Os que não resistem, se ressentem do osso, o querem de volta.

Sabe onde estava o osso? Sabe onde ele foi depositado? Não? Eu também não. Ninguém sabe onde está o osso, pois quando o tira, é no afã de que nunca mais irá precisar dele!

Mas depois da falta do osso inicial, os amores invertebrados ficam fortes e indestrutíveis como em uma música serteneja! Forte como não é meu corpo, forte como é a minha sociologia.

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Em outro dia, dei a alguém uma paçoca como prova de um amor invertebrado.

Vi que ela recebeu a paçoca com grande devoção - mesmo não a tendo comido - e desconsiderou o recado do amor invertebrado uma fanfarronice sociológica. E não era.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O nome medicinal

Quando eu, Ewerton Clides, passo mal ou tenho alguma indisposição, vem um médico para tratar de mim. Digo-lhe:

- Doutor. Você é médico, estudou em alguma universidade deveras capacitada onde teve as melhores notas possíveis; fez diversas residências de 24 horas; estudou como um camelo em um mundo imaginário onde camelos estudam; atendeu pessoas ilustres - não tanto quanto eu, é verdade, mas ilustres; fez uma belíssima clínica em um bairro luxuoso; fez outra belíssima clínica em um bairro pobre para tratar de graça de crianças; fez milagres magníficos em casos em que todos os outros médicos não teriam nem idéia do que poderia ter sido feito; enfim, o senhor é um médico magnífico. Mas doutor, você não se chama Juliana.

Bife

Enquanto comia um bife no almoço de hoje, percebo que alguém olha fixamente em meus olhos pretos cor de carvão.

Penso: - Certamente ele sabe meu nome - Ewerton Clides -, conhece minha obra - leu as Obras Completas do Ilustre Sociólogo Ewerton Clides -, e lê meu blog de internet. Neste momento, corrijo-me a redundância: se é blog, é de internet.

Olhei para o teto e bufei. O garçom, meu conhecido - conhecido meu, mas não sou conhecido dele -, aproximou-se com a faca e o garfo, cortou meu bife simetricamente em 8 pedaços. Eram sete pedaços de aproximadamente um centímetro quadrado. O oitavo media 1,5 centímetro quadrado. Tudo sem gordura.

Distraí-me exatamente deste jeito - pensando no bife - para não pensar no sujeito que olhava fixamente para mim e não comia nada no restaurante. Garfei um bife fortemente e olhei para o moço:

- Sim?

Ele disse-me que já havia almoçado. E como quem fala comigo casualmente, pediu para deixar um recado à Juliana:

- Diz que ela é mais bonita que a ressaca da praia de Santos. E que ela me emociona mais que Mário Quitana e que o nascimento do meu sobrinho! Ôpa! Mas isso foi ela que falou para mim. Não é isso que eu quero que você fale para ela. Pensei alto, Ewerton Clides!

O moço me agradou por sua demora, assim eu poderia comer meu bife frio. Adoro bife frio!

- É só para você falar para ela ver o site www.ideiasmutantes.com.br e ver o texto que eu fiz pro meu cachorrinho! Não deixa de dizer que ela é bonita, tá?

Juliana. Se você ler este texto, lembre-se: Você é muito bonita. Mas não falo porque o moço falou. Falo porque você é.

A loura

Quando vi uma moça loura e bela que pegava uma paçoca na Bomboniére, pensei: - Quanta coincidência!

Porque eu escrevi um texto na última quinta-feira pensando justamente na paçoca que a moça que eu seguia comprou!

Escapoliu-me dizer que a moça estava sendo seguida por mim. Apesar de eu dedicar árduas horas à sociologia, não pude me conter. Deixei de ler 14 livros feitos por mim mesmo para acompanhar esta mulher. Sociologia me perdoe; me perdoe também mamãe, a finada mamãe Clides. Ah, sim! Também necessito pedir perdão ao senhor namorado dela, a quem devo minha castração. Me perdoem por isso:

- Esta mulher é mais bonita que a sociologia! Prefiro olhar o rosto dela a ler uma página de um livro difícil com palavras arcaicas! É melhor ver o dedinho dela, que ver uma nota de rodapé! E ainda tem tantos dedinhos no pé (contei dez, sendo cinco no direito e cinco no esquerdo). Dez dedinhos tão lindos! A orelha dela tem mais graça do que a orelha de um livro com a minha foto!

E é imprescindível dizer mais da paçoca.

Fui muitíssimo questionado por preferir paçocas ao capitalismo. Os socialistas comemoraram, mas lhes tiro o prazer como a mãe que tira o dedo do filho da cavidade nazal. Prefiro paçoca ao socialismo, também. E prefiro aquela paçoca diante de todas as outras paçocas. A paçoca que ela escolheu.

Minutos depois desta cena, vi o André - ser que digita os textos para mim, Ewerton Clides - com o envólucro desta mesma paçoca na mão. Foi a ele que pedi perdão. E foi ele quem castrou-me. Ele disse:

- Sabe a paçoca que estava dentro deste papel branco em cujo centro há um belo coração desenhado? Dentro do coração, Ewerton Clides, está escrito AMOR sing´s, PAÇOCA, PESO LÍQUIDO: 28g. Desculpe-me, Ewerton Clides, perdi-me nas especificações paçocais. Posso começar esta fala novamente?

Sim.

- Sabe essa paçoca que eu comi? Era para você.

Ela comprou uma paçoca para mim! A paçoca, eu já a preferia ao capitalismo. Agora, esta paçoca, eu a prefiro diante de qualquer coisa, menos da moça que primeiramente a pegou com a mão enquanto eu a seguia, e eu a viajava escondido ao longe.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A inveja é uma merda, portanto necessária

Muitos de meus conhecidos fogem do senso comum como se este fosse uma barata que mordesse, além de ser nojenta.

Eu, Ewerton Clides, sou o contrário. Eu não esbarro no senso comum, mas o persigo! Dependo dele como o músico depende do ouvido! Além do senso comum ser de fácil acesso, ele é o alicerce principal da sociologia. O senso comum é a aorta da sociologia! Ou a horta em que cada sociólogo cultiva no seu jardim para lhe rendem verduras sociológicas.

Eis que um amigo disse: "A inveja é uma merda!". A despeito do palavrão, é uma belíssima frase. Eu diria: "A inveja são fezes!". O efeito seria o mesmo, mas teria muito mais valor no mercado sociológico, já que seria divulgada como uma frase comum modificada pelo grande sociólogo Ewerton Clides.

Mas a grande diferença não é na semântica da frase. É no sentido que eu lhe emprego. O meu amigo diz que inveja é uma merda, como se fosse algo ruim, algo que melhor seria se não existisse.

E eu digo que inveja são fezes e digo que é preciso que faça-mo-la todos!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Onde deus fez a goiaba?

Em nenhum lugar, porque deus fez a árvore - e esta, por sua vez, fez a goiaba.

Se este texto fosse escrito por outra pessoa que não um sociólogo, você não estaria lendo até agora, pois a pergunta foi respondida. Se fosse escrito por outro sociólogo que não eu, Ewerton Clides, você ainda não estaria lendo, porque os outros sociólogos não escrevem na internet, portanto a pergunta seria lida, você leria a resposta e pensaria: - Não continuarei lendo, já que não é o Ewerton Clides, o único sociólogo que escreve na internet.

Aí, leitor, um erro seria cometido. Eu não escrevo na internet. Escrevo em casa, em papel amarelado, a lápis. Quem o transcreve na internet é André, moço contratado que o faz sem amor. E assim prefiro, pois se fizesse com amor, este poderia tirar-lhe a concentração de minhas letras e pular algumas.

Falo de André para testá-lo. Para ver como ele se sente digitando sobre si.

Às vezes cometo erros propositais para reclamar de André. Coloco um n na frente de um p, não acentuo uma proparoxítona, critico um sociólogo, tiro o pingo do i, não fecho um parênteses... e depois, se encontro o meu erro cometido depois da transcrição, acuso André por ter ele cometido o erro. Se não encontro o erro, acuso André por tê-lo corrigido sem minha autorização.

Após os berros, ele me olha e diz:

- Tá, peço-lhe perdão, Ewerton Clides.

E eu ergo meu nariz, despeitado.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Bom dia

Eu, Ewerton Clides, sou um sociólogo. E como não escrevi novidades nesta linha, posso passar várias sem me deparar com ela, a novidade. Acho melhor tentá-la no próximo parágrafo.

Eu, Ewerton Clides, não sou um sociólogo. Aí está a novidade! Mas, apesar de ser novidade, é também uma mentira. Melhor mesmo é iniciar o texto no terceiro parágrafo.

Eu, Ewerton Clides, não gosto de poesia. A acho sempre inútil e com perdas de tempo, com frosô, com firulas que gastam meu escasso tempo.

Mas estava eu passando por uma esquina, e uma voz me soou:

- Bom dia, Tristeza.

E eu, Ewerton Clides, sem ter por onde me esquivar, lembrei-me de como se responde no interior a quem lhe é sempre presente:

- Dia.

Formigas afogadas

Certa vez, quando eu, Ewerton Clides, tinha vinte anos, uma das serviçais de minha casa derramou água em minha fazenda de formigas. Morreram todas, e afogadas.

É claro que chorei. E é claro que só o fiz quando ninguém olhava. Chorei às pitangas pelos cantos, lamentando as formigas que nos cantos já não estavam. Nunca mais eu poderia impedir a fuga daquelas formigas.

- Mas Ewerton Clides, por que você não comprou outra fazenda de formigas?

Não comprei, porque eu sentia falta, repito, daquelas formigas, não de formigas simplesmente.

Porém, não sei se a época das pitangas se foi. Mas acontece que parei de chorar às pitangas. E nesta hora, o leitor menos arejado, mais distraído, poderá pensar que "o Ewerton Clides agora está bem! Agora o Ewerton Clides não está mais triste."

Engano do leitor, tão relapso, tão indolente.

Leitor, aprenda comigo, Ewerton Clides.

Há uma grande escala que vai da tristeza profunda à alegria suprema. E sempre estamos situados em algum ponto no meio desta escala. A gente chora, leitor, quando desce. E quando lê um livro de sociologia, ou se está apaixonado, esta sensação é a de subida.

E depois, se pára de chorar porque se acostumou com a vida triste sem a fazenda de formigas. Se parou de chorar, mas se vive muito mais triste.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A parábola

Muitas vezes falei da graça que se há em simplesmente dizer xixi, cocô ou catota.

Não que eu, Ewerton Clides, ria desta graça. Mas posso vê-la, ali, no meio da palavra, entre uma letra e outra. É claro que acham graça disso por uma reverberação dos instintos da infância.

- Ewerton Clides, você acha graça de quê?

Detesto interrupção nos meus textos. E mesmo que esta pergunta não viesse de uma interrupção, não a responderia. Porque hoje é dia de falar de urina.

Tomei o cuidado para não dizer xixi, que nada tem a ver com urina. Urina podia mesmo ser o xixi da criança, mas não é. Urina da criança é urina da criança, enquanto xixi é feito até por adultos. Vamos às diferenciações.

O que está dentro do potinho é urina, para crianças e adultos. O que é dito para se achar graça, é xixi.

(A cor dos dois é a mesma, mas o xixi pode ser amarelo claro quando a urina é amarelo escuro, e a urina pode ser amarelo escuro quando o xixi é amarelo claro. É claro que o xixi pode ser amarelo claro quando a urina é amarelo claro.)

Gosto de dizer que o xixi é o que é mencionado por um civil, e a urina é líquido amarelo proveniente de uma bexiga, mencionada por um sociólogo.

Então eu urinava de porta fechada. Percebe a redundância? Porque eu, Ewerton Clides, sempre urinarei e sempre urinei de portas fechadas. E o problema, leitor, não seria que me vissem com algo na mão expelindo líquido amarelo. O problema são o barulho e a parábola desenhada na trajetória. Se alguém visse, se alguém ouvisse! A sociologia seria outra.

E uma vez que alguém já teria ouvido, não teria mais razão em isolar acusticamente meu banheiro, e minhas habilidades de se urinar no escuro seriam em vão!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Se sou contra a guerra?

Comumente perguntam a mim, Ewerton Clides, se sou a favor da guerra.

Eu assusto-me com o teor da pergunta, e apresso-me a dizer que não, que sou contra a guerra!

Digo que não é bom que se matem crianças, ornitorrincos, mulheres, formigas, et´s, homens, baratas, cães, gatos, porquinhos da índia - mesmo quando a guerra não é na Índia - e chinchilas, por conta de motivos políticos. Digo que não há razão para se destruir hikebanas, bonzais, prostíbulos, fazendas de formigas, formigueiros, piercings no umbigo, óculos coloridos, e até ventiladores, por motivos políticos.

Mas quando me lembro que na guerra, os americanos matam pessoas anti-sociológicas, exibo um sorriso aristocrático, e volto à posição original o dedão que mexi para combater a guerra.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Anotações dispersas do diário de Ewerton Clides

Pequena nota da assessoria de imprensa: O sociólogo Ewerton Clides abriu, pela primeira vez em 83 anos, os seus diários para divulgação na mídia impressa.

em 21 de maio de 1958

Meu nome é Ewerton Clides, e não há nada em mim que tenha vindo de Itabaiana.

Eu gosto muito de Itabaiana. Esta cidade possui, acima de tudo, um belo nome. Pessoas, não sei, pois nunca fui a esta cidade e, principalmente, nunca li nada a respeito. A pessoa que nasce em Itabaiana seria duas vezes baiana, se Itabaiana da Bahia for.

em 23 de abril de 1947

A Revolução Francesa tem, para os burgueses, a mesma relevância que o gol tem para o futebol. Mas a minha pergunta é: - "Futebol? O que é isso?" O maior problema, maior de todos, mesmo, é o de que quando propus uma pergunta, fiz duas. Duas perguntas querendo perguntar uma coisa só.

É tanta coisa a se aprender...

em 23 de novembro de 1978

Alguma coisa maravilhosa acabou de acontecer.

Acordei, conferi meu grau de toxinas, e este estava normal. Então verifiquei se a classificação alfabética estava bem feita em minha biblioteca. Perfeita.

Chamei meu mordomo, e ele respondeu que não havia guerra nova. Liguei o noticiário e vi que não havia leite em cima da mesa. As lâmpadas de minha casa funcionam perfeitamente, e os espelhos refletem a mim, Ewerton Clides, quando neles em frente estou.

Recorri ao máximo de meu orgulho, e não olhei o horóscopo do jornal, apesar da insitência do mordomo, já citado nesta nota. A sociologia vem em primeiro plano, mas é a primeira vez que ela não me explica uma dúvida. Está tudo tão esquisito.

Abri a correspondência e fiquei com a impressão de ter lido, no meio da carta: "Boa nova do Rio Grande do Sul".

em 41 de junho de 1994

Continuo prolongando junho para não acompanhar a Copa do Mundo.

Calça

A calça me é essencial.

Dizem que ela surgiu porque era necessário que não se passasse frio nas pernas... Encerrei a frase anterior com reticências, foi possível reparar? As reticências devem ser a maior causa de suicídio! Porque quando se termina uma frase de reticências, percebo uma ironia forçada e macabra. Imagino a pessoa que encerrou a frase apresentando o semblante mais maroto que tem, com pose contorcida, polegar e dedo indicador abertos e movimentando-se indo e vindo, olhando-me de canto do olho.

Vocês não têm nojo disso?

Mas de reticências, falo depois... Agora é a hora do segundo maior nojo. O nojo que tenho de pernas à mostra!

As calças não foram feitas para que se proteja do frio. Eu as uso quando está quente, também! A calça foi feita para nos protegermos dos pêlos, dos rabos de meia, dos suores e dos odores provenientes de parte do corpo tão ingrata!

Eu, Ewerton Clides, vou de calça!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

nota da assessoria

Ewerton Clides é pego amarrando o cadarço do sapato

Na tarde desta terça-feira, no sol da cidade de São Paulo, as ruas do Centro viram algo inusitado e raro: Ewerton Clides amarrando seu sapato.

Isto seria muito costumeiro, não fosse a insistência de Ewerton Clides em toda sua obra na desnecessidade em se amarrar sapatos. "Creio que só amarra os sapatos quem tem sapatos, mas mesmo assim amarrá-los é risível, pois as pessoas se abaixam para um serviço ridículo!" é dito em trecho do livro "Rabujento, bujudo e pachorrento, mas com um sorriso abominável: sociologia", de Ewerton Clides.

"Amarrei porque compus outra teoria que complementa a de outrora. Nessa teoria - a ser lida no meu próximo livro, "A-tchim, um espirro sociológico" -, amarrar o sapato já não é risível, senão necessário!", diz Ewerton Clides.

Ewerton Clides não pretende amarrar mais os sapatos hoje, porque, segunda confidenciou, amarrou muito bem nesta tarde, "chegando até a doer um pouco a parte de cima do pé!", completa.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

nota da assessoria

A assessoria de imprensa de Ewerton Clides informa que Ewerton Clides pediu para que seja divulgado que ele possui, sim, pêlos no dedão pé.

Este mistério iniciou-se em 1967, quando Ewerton Clides - à época um dos maiores combatentes ao uso de filtro solar na ausência de praias - escreveu o livro "E se eu tivesse pêlos no dedão do pé?"

O título gerou por si só um grande interesse do livro, não bastasse o agudo interesse sociológico já produzido por o livro simplesmente ter sido escrito por Ewerton Clides. E quando respondia a insinuações contra este título já insinuante, Ewerton Clides corava e dizia que sempre utilizou meias, que bastava tirá-las para saber.

Em 1968, quando o livro seguinte de Ewerton Clides foi lançado (A sociologia na alcova), os rumores de pêlos no pé cessaram, e ninguém mais perguntou sobre isso de modo tão efusivo.

E agora, como para solucionar um mistério que já era desinteressante, Ewerton Clides chama de novo as atenções a si com algo que não possuía mais relevância.

Macambúzio

Eu, Ewerton Clides, pude ser visto macambúzio na última coluna social.

Meu motorista, ao ver a foto na revista, disse:

"Desmacambuza, Ewerton Clides, Desmacambuza! Porque veja, meu chefe. Você é o único sociólogo que tem um motorista com nível superior completo. Você é o único sociólogo que não precisa interromper elocubrações sociológicas ao entrar em seu veículo. Nunca vi você dizendo, bom dia, Jarbas, como vai? Porque isso seria a maior perda de tempo. Você tem é que estar satisfeito. E também porque você tem um motorista, no caso eu, Jarbas, que mudou o nome para ser seu motorista.

Eu me lembro direitinho. Eu chegando aqui, concorrendo para a vaga, e você disse, pára, Astrogildo, pára! Você vai ter que mudar de nome, porque Astrogildo não é nome para motorista. Você agora vai se chamar Jarbas.

E não fui eu quem fiz um crachá com meu novo nome somente para agradar o senhor?! Lembra, Ewerton Clides, lembra?"

Ele continuou o discurso com a idéia fixa de que eu não deveria andar com o ar soturno simplesmente por ter um excelente sócio-motorista. E sem querer, esta voz fina me deu uma idéia tentadora:

- Astrogildo, você está demitido. Você não tem a clara intenção de me deixar feliz? Pois a sua demissão neste momento me trará uma alegria imensa! Adeus.

Astrogildo parou o carro no canto da avenida, e eu não sei dirigir.

Unhas

Eu, Ewerton Clides, prefiro roer as unhas do que utilizar trins. Entenda a lógica do processo.

Quando eu utilizava trins, estes trins eram disputados como os anéis de uma princesa egípcia. Os grande críticos de minha obra irão objetar que não havia princesas no Egito. E eu mostrarei mais uma vez como são idiotas, estes críticos.

"Queridos Críticos,

Escrevo-lhes para dizer que justamente por não haver princesas no Egito, uma princesa que houvesse seria muito rara, portanto um anel dessa princesa seria raríssimo, portanto muitíssimo disputado. Sim?

Agradecidamente,

Ewerton Clides"

Então eu utilizava um trim cotidianamente e o deixava solto em cima de minha mesa. E o trim não era mais visto, pelo menos em minha mesa.

Poderia tentar comprá-lo pela internet? Não, porque na época não havia internet. E mesmo se houvesse, não conseguiria comprá-lo de lá, pois quem o tivesse, jamais colocaria à venda!

Além disso, as unhas iam para o lixo todas juntas, sendo assim fácil de confiscá-las.

É por isso que as rôo. Rôo discretamente, e ninguém rouba meu trim. As unhas, as jogo discretamente em alguma fresta de minha mesa.

Dores estomacais?

Eu, Ewerton Clides, não sentia dor aguda de estômago.

- Pois o que levou você, Ewerton Clides, a ser internado por uma dor aguda no estômago?!

Amor.

Eu soube que uma pessoa muito querida de uma pessoa muito querida a mim, está internada. O que fiz, então? Simulei uma grave dor estomacal, a fim de ser internado perto da pessoa querida da pessoa que me é querida. Simples de entender.

O que não é simples de entender é como consegui ser internado no quarto justamente ao lado do quarto da pessoa, e assim ver todos os dias a pessoa querida.

Foram dezenas de livros sociológicos distribuídos a todos os médicos, autografados por mim, Ewerton Clides. Até livros de outros autores, eu autografei. Pensei que nunca faria isso, mas com esta necessidade, sequer pestanejei!

Pois que a pessoa nem sabe que a estou observando todos os dias de dentro de meu quarto. E ela também não sabe que qualquer privação de comida, que todos estes remédios ruins, acabam sendo divertidos - divertidíssimos - por eu estar a vê-la.

nota da assessoria - Ewerton Clides é internado com dor aguda no estômago

A assessoria de imprensa do grande sociólogo Ewerton Clides informa nesta nota que o próprio Ewerton Clides sofre de uma dor aguda no estômago e encontra-se internado.

"Sinto uma dor aqui, ó", diz Ewerton Clides, alegando que o estômago dói muito. Quando informado que apontava não para o estômago, senão para o rim, Ewerton Clides foi enfático: "Dói meu estômago! E quem ousar desmentir ganhará um livro de sociologia autografado por mim, Ewerton Clides!"

Ewerton Clides não tem previsão de alta. E, segundo ele próprio, Ewerton Clides, "quanto mais ficar aqui, melhor. Dor de estômago aguda tem que ser bem tratada!"

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

[Banheiro Público

Eu, Ewerton Clides, fui ao banheiro público logo após o almoço. Acima do vaso sanitário, havia um aviso propondo que não se utilize o vaso sanitário como cinzeiro.

Foi nesta hora, enquanto urinava, que me lembrei de que fui convidado para um baile da terceira idade! Eu, esperto, sei que ninguém me convidou pelas minhas habilidades na dança. Pela minha simpatia, também não, porque não sou simpático! O que assombra, foi que não me convidaram pela minha capacidade sociológica. CONVIDARAM-ME PELA FAMA! Para os folhetos de divulgação terem escritos "O Baile da Terceira Idade terá a presença do grande Ewerton Clides!".

A raiva foi o primeiro sentimento a que pude me segurar, como se seguram nos postes e corrimões as damas famosas de cinema americano - em filmes antigos, claro - quando há uma grande ventania. Quando o vento passou, vi a sociologia triste em um canto, chorando. Ela chorava por eu ter me lembrado da raiva antes dela!

Ficou de bico por quatro dias.

Então pus-me a pensar sobre o baile da terceira idade. E aqui caberia um título entre parênteses, porque é praticamente um novo texto inserido em um texto maior. O texto, em seu começo, a partir do primeiro título, fica entre colchetes. E agora, entre parênteses, como numa operação matemática, o baile da terceira idade.

(O baile da terceira idade

Eu, Ewerton Clides, nunca participei de um baile da terceira idade. Mas já observei muitos, sendo eu observador em várias idades.

Quando criança, via no baile da terceira idade um grande acontecimento, por lá estar minha avó dançando ao centro. Ela fazia caretas e errava passos para chamar-me a atenção. E eu olhava para os flancos do baile, fingindo que não via em minha avó, quando na verdade via, chegando a me ofender quando ela não fazia nada.

Uma tarde não houve sinais. Fiz um bico do jeito que fiz há pouco ao saber do desprezo aos meus conhecimentos sociológicos. Minha avó foi falar comigo, e naquele dia não respondi. Mas no dia seguinte, abracei-a como nunca antes.

Pois foi pelo desprezo de minha avó que descobri a sociologia. Naquela noite, ao invés de ler um livro, escrevi um livro. E assim ingressei-me na sociologia ao contrário do jeito das pessoas comuns.

Bem. O baile da terceira idade é tosco como o das crianças. A diferença única entre os dois é a de que as crianças são toscas por quererem se aproximar aos adultos, e os velhos são toscos porque já desistiram de se aproximar aos adultos.

Mas prefiro o da terceira idade frente ao das crianças e ao dos adultos.

Frente às crianças, é fácil dizer. Porque as crianças são altamente influenciáveis. Os velhos lá estão apenas divertindo-se, dando amplas aberturas às demonstrações sociológicas.

E prefiro o da terceira idade ao dos adultos, porque os adultos são tecnicamente perfeitos. E como perfeitos, não cabe análise.)

Eu, Ewerton Clides, então dei a descarga, ocupado com outro pensamento.

Ora. O aviso para não se usar a privada como cinzeiro é pertinente. Mas é essencial pedir para não se usar os cinzeiros como privadas!]

Clipping Ewerton Clides

Ewerton Clides não nega: sua careca coça cada vez mais
Folia de São Paulo - edição impressa de 17/09/2007

Um dos maiores mistérios acerca da sociologia moderna foram desvendados em escutas telefônicas residenciais de Ewerton Clides. Em um colóquio com seu dermatologista, Ewerton Clides pergunta se é normal uma ascenção da coceira em sua careca.

O dermatologista, cujo nome não pôde ser desvendado pela voz, preponderou. Diz ele: "Isto não tem problema, Ewerton Clides, concentre-se em sua sociologia. Se estiver insuportável, receitar-lhe-ei um creme que faz a cabeça coçar menos, mas altera o desenvolvimento do cérebro."

Ewerton Clides, então, nada respondeu e involuntariamente proporcionou um aumento enorme de coceira em carecas postiças de seus fãs. "Agora os fãs de Ewerton Clides, que raspam o cabelo só para ficarem com a careca igual à dele, ficam coçando a cabeça o dia inteiro! Eu me irrito", relata o motorista de ônibus, João.

Ewerton Clides, no momento, passa bem, e deve responder a novas perguntas em coquetel próximo.

ps: O Instituto Ewerton Clides (IEW), por meio de sua assessoria de imprensa, informa as últimas notícias do próprio instituto, do próprio sociólogo cujo nome está inserido no nome do instituto, e possui, ainda, um clipping com as notícias que foram publicadas nos jornais das últimas semanas contendo as seguintes palavras: Ewerton, Clides, Instituto (somente anterior a Ewerton) e sociologia; e a sigla: IEW.

Informe da assessoria

Por meio de seu conselho regimental, o Instituto Ewerton Clides convida todos os sócios à presença de um coquetel (sem estripetise) em lançamento do livro Juliana e sociologia, conciliando amores. Além de Ewerton Clides, estará presente no coquetel, a Juliana que cedeu o nome ao livro, por isso será cobrada a taxa de R$92 para o pagamento de cachê.

Com o dinheiro recebido no coquetel - previstos R$920000 -, Juliana receberá dinheiro, sapatos e um belo colar de pérolas colhidas por Ewerton Clides - o sociólogo.

Linguagem

Eu, Ewerton Clides, andava pelo belíssimo centro da cidade de São Paulo. Mas não era por beleza, que por lá andava. Eu andava por necessidade de acompanhamento sociológico de um amigo.

Paramos. Era em uma ponte. E lá, observávamos um jogo de futebol jogado por meninos de rua. Sem meninas, ainda bem. As mulheres estragam o futebol, quando jogam.

Muitos dizem que sou homossexual, que detesto as mulheres. Dizem inclusive que eu prefiro croaçã de cocô a ter mulheres. Ora, meus caros. Eu não sou homossexual. E não sou heterossexual, na definição que esta palavra tem de o homem gostar e ter a necessidade de fazer sexo com mulheres. Eu gosto é de uma mulher, porém não faço sexo com ela.

Enquanto os meninos não marcavam gols nem criavam jogadas insinuantes, alguém estava ao meu lado gesticulando bravamente! Olhei-lhe com cara de quem pede para a pessoa parar de gesticular e começar a falar (foto desta cara no prefácio). Mas a pessoa gesticulou-me que não é capaz de falar, por isso gesticula letra por letra na linguagem de surdos.

- Você pode me ouvir? - perguntei.

A pessoa gesticulou alguma coisa. Esta coisa só poderia ser que sim ou alguma outra coisa, mas nunca que não. Porque se ela não podia me ouvir, não negaria a minha pergunta oral.

- Se pode me ouvir, faz que jóia com a mão, assim!

Ele não fez que jóia e saiu correndo. Somente porque fiz um movimento brusco e disse-lhe debaixo de meu bigode:

- Bu!